A
indisciplina nas escolas brasileiras é um fato. Alastrando-se em diferentes
instituições e segmentos do ensino, a falta de limites, o desrespeito e as
ocorrências de violência e vandalismo são queixas que se multiplicam entre
pais, professores e gestores. Mas, afinal, de quem é o problema e como lidar
com ele?
Quando a indisciplina é encarada como um monólito, ou seja, como um bloco de ocorrências uniforme e incompreensível, resta apenas o perverso jogo de culpabilização: as escolas criticam os pais "que não educam os filhos"; os professores incriminam os alunos "carentes e desequilibrados" e as famílias culpam o "ensino de baixa qualidade". Muitos apontam para a "a crise de valores, um mal do nosso tempo".
Nesses
casos, pouco pode ser feito, exceto defender-se das acusações, conformar-se com
o "inevitável" e remediar a situação em âmbitos específicos: o
professor tenta controlar a classe, o aluno suporta o bullying dos colegas, os
pais repreendem o filho rebelde. Cada um lidando solitariamente com a situação,
como se o problema fosse pessoal. Pior que isso, nem sempre sabem o que fazer.
Se,
por outro lado, a indisciplina fosse compreendida na sua complexidade,
entendendo-se, em cada caso, a conjugação de fatores sociais, institucionais,
pedagógicos, afetivos e relacionais, o desafio poderia ser enfrentado na
parceria responsável entre famílias, escolas e poder público. Um enfrentamento
capaz de lidar com a gênese do problema (e não só com seus efeitos),
articulando o projeto educativo à formação ética dos alunos.
Assim,
a disciplina deixaria de ser um requisito para a eficiência escolar, passando à
meta do projeto pedagógico, tão legítima quanto ensinar conteúdos.
Enfrentar
a indisciplina requer medidas conjugadas em diferentes planos de intervenção.
Na esfera sociopolítica, cabe o investimento na valorização da vida, do
trabalho, da educação e da escola.
No
que tange a cultura, importa promover a democratização dos bens culturais,
fomentando iniciativas de lazer, esporte e inserção social da juventude. No
âmbito escolar, é preciso não só cuidar da formação dos professores, como
também fortalecer o projeto pedagógico a partir de sólidas diretrizes para a
formação humana.
A
cooperação entre pais e educadores é, igualmente, indispensável para a
reconfiguração da vida estudantil, pois a negociação de metas e linhas de
conduta favorece a educação em valores e a conquista da postura crítica entre
os alunos.
Sob
essa ótica, talvez, a questão possa ser respondida de modo mais efetivo: a
indisciplina na escola é um problema de todos nós.
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