No Brasil, a educação
básica está sempre sendo discutida, passando por análises e ajustes. Ora alguns
componentes curriculares e disciplinas são inclusos, ora sistemas de ensino são
recomendados. Metas, estratégias, formas de financiamento. A lista de itens em
debate é grande. Nesse contexto, professores, alunos e escolas passam por um
constante acompanhamento, a fim de garantir a qualidade da educação. Com os
métodos de avaliação não é diferente. De um lado, nos últimos anos, a
progressão continuada – que rompe o formato de desenvolvimento em séries – foi
adotada em todo o País e, desde então, tem sido vista como vilã pelos
educadores. De outro, os altos índices de reprovação revelam a deficiência não
apenas dos alunos, mas também das escolas.
As
grandes reclamações dos docentes em relação ao sistema de ciclos – que leva em
consideração o desenvolvimento biológico e a formação continuada – são a
aprovação forçada para o ano seguinte e a falta de autonomia dos professores
para avaliar. “Muitas vezes, o estudante não tem condições de passar, mas não
tenho como impedir isso, porque o sistema não permite. É por isso que tantas
crianças chegam ao 3º ano do [ensino] fundamental sem saber ler e escrever
direito e todo o aprendizado fica deficiente”. Geralmente, esse sistema divide
os nove anos do ensino fundamental em dois ou três ciclos, e os estudantes só
podem ser reprovados no fim de cada ciclo e não no meio dele
A repetência escolar,
de fato, tem sido motivo de dor de cabeça para gestores escolares. Isso porque
o índice é muito alto se comparado à média mundial. O 9º Relatório de
Monitoramento de Educação para Todos (2010), divulgado pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), mostrou que, no
Brasil, 18,7% dos alunos são reprovados no ensino fundamental, enquanto a média
dos 128 países pesquisados é de apenas 2,9%. Como uma das consequências, a
evasão nessa fase também é alta: 13,8% dos brasileiros abandonam os estudos já
no primeiro ano do ensino fundamental, enquanto o índice médio no mundo é de
2,2%.
Os
ciclos representam uma forma moderna e eficiente de encarar o desenvolvimento
dos estudantes. O problema está em como eles estão sendo aplicados. “Houve um
rompimento repentino do sistema seriado para o sistema de ciclos. Mudou o
sistema, mas o pensamento, a forma de avaliar, as condições de trabalho e a
infraestrutura das escolas não acompanharam o formato proposto”.
É necessário que os
professores acompanhem o rendimento do estudante e o ajudem a superar as
deficiências ao longo do ano, evitando, dessa forma, a repetência. “A
reprovação não é benéfica. Ela é ruim para qualquer pessoa, em qualquer
situação. Por outro lado, não admitimos a aprovação automática, porque isso
traz prejuízo para o próprio aluno. Uma hora ele vai precisar dessa
aprendizagem. Aprovar com base na possibilidade de recuperação no ano seguinte
não tem garantia. O ideal é que não reprove, mas que desde o primeiro dia do
ano letivo haja um cuidado com o desenvolvimento dos alunos”.
A
proposta é garantir o desenvolvimento do estudante e o alcance dos requisitos
básicos em cada ano. “É preciso vencer etapas. Por exemplo, o professor sabe
que há algumas questões que precisam ser desenvolvidas no primeiro ano do
[ensino] fundamental. Não dá para pular isso”, explica. Nesse contexto, as
avaliações tornam-se fonte para orientar a ação dos educadores e das famílias.
“[A avaliação] serve para dar referência sobre o trabalho do professor, do que
pode ser melhorado, do que a escola precisa oferecer ao aluno. Ao mesmo tempo,
ajuda os pais a tomar providências, como colocar a criança em um reforço”.
A
repetência ainda pode representar prejuízos pessoais ao aluno, como o fato de
ele ser privado do convívio com seus colegas e chegar rotulado como fracassado
ou “burro” em sua nova turma.
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