sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A MÚSICA NA SALA DE AULA

REGISTRO E REPRESENTAÇÃO DO COTIDIANO
As linguagens alternativas têm sido utilizadas como um importante recurso didático para a aprendizagem de varias disciplinas. Entre essas linguagens, a música popular tem ocupado espaço, como instrumento pelo qual se revela o registro da vida cotidiana, na visão de autores que observam o contexto social no qual vivem. As representações sociais de autores e intérpretes serão instrumentos na transformação dos conceitos espontâneos em conceitos científicos, porque como registros são evidências, restos que o passado deixou para trás e que facilitam a compreensão histórica pelos alunos, pela empatia que estabelecem entre eles e aqueles que viveram em outros contextos históricos.
A produção cultural, que se expressa por meio de diferentes linguagens, transforma-se em evidência quando, de material original, isto é, de produção não-intencional para finalidades pedagógicas, passa a ser um instrumento para o desenvolvimento de conceitos na aula de história. Nessa perspectiva, este paper propõe um trabalho didático, no qual as letras de músicas populares sejam colocadas como evidências de fatos históricos. Elas são representações, não se constituem num discurso neutro, mas identificam o modo como, em diferentes lugares e em diferentes tempos, uma determinada realidade social é pensada e construída. Serão também instrumentos para a construção de representações sociais dos alunos, evidenciando por meio de múltiplas configurações intelectuais como os diferentes grupos constroem contraditoriamente, a realidade social.
Não é raro se encontrar em obras didáticas letras de música popular para ilustrar determinados conteúdos conceituais.
O tratamento que tem sido dado a tais letras é no máximo o que se daria a um documento literário. As propostas de análise para os alunos são fundamentalmente as que orientam para extração de informações, desprezando outros aspectos da formação, pois há que se levar em conta as simbologias, as figuras de linguagem presentes na construção literária das letras.
Assim, por meio da linguagem oral cotidiana, veicula-se um conteúdo que depende da base acústica inscrita nos fonemas e nas entonações, mas não há necessidade de preservação da sonoridade – a fala se torna autônoma enquanto canto e autores e intérpretes mandam recados, criam polêmicas, fazem declarações ou reclamações de amor, comentam o dia-adia, produzem tiradas de humor. Registram, enfim, o que acontece ao redor do sujeito que escreve e interpreta a obra musical.
Tal metodologia de ensino auxilia os alunos a elaborarem conceitos e a dar significados a fatos históricos. As letras de música se constituem em evidências, registros de acontecimentos a serem compreendidos pelos alunos em sua abrangência mais ampla, ou seja, em sua compreensão cronológica, na elaboração de conceitos próprios da disciplina.

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