Imaginem a seguinte cena: um grupo de cinco crianças de sete anos
brincando no recreio. Dois deles são perseguidos pelos outros três que
esbravejam "Vamos, temos que acabar com o "Duende Verde" e seu
ajudante! Atrás deles!" Quando finalmente o grupo os alcança, tem início a
luta. Os que tentam prender o "Duende" e seu ajudante puxam a camisa,
seguram pelo braço, derrubam-o no chão e o seguram pela perna. O
"Duende", tentando fugir, chuta, empurra, grita. No auge do
confronto, ele consegue escapar às custas de um arranhão no
"inimigo", que começa a chorar.
Nós adultos, diríamos: "Só podia dar nisso, ficam só
assistindo esses desenhos violentos de hoje!". Mas, brincadeiras e
dramatizações onde a violência aparece não são exclusivas de nosso tempo, são
recorrentes em diversas culturas. Por que então algo que parece tão maléfico e
sem propósito teima em se fazer presente no nosso dia-a-dia?
Brincando, a criança aprende sobre si mesma e sobre o mundo. Nesse
processo ela é um agente ativo em seu próprio desenvolvimento, construindo e
adaptando-se à realidade. Usa sua imaginação, expressa suas emoções, ganha
autoconfiança e aprende a reforçar seus laços afetivos. É através da
brincadeira que as crianças aprendem a lidar com tudo o que, na realidade, é
assustador, como a violência e a morte. A brincadeira provoca na criança uma
sensação de poder e controle que ela não tem na vida real, por se tratar de um
faz de conta que ela comanda. Por isso, antes de proibir, devemos entender
essas brincadeiras como parte do processo de crescimento de qualquer criança e
ajudá-la a lidar com elas, já que às vezes alguém se machuca de verdade.
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