O
desenvolvimento da autonomia, do senso crítico, da justiça, de relações mais
justas e solidárias é uma das metas encontradas na maioria dos Projetos
Pedagógicos das instituições escolares. Apesar disso, estudos mostram que
alguns educadores consideram a formação moral uma responsabilidade exclusiva da
família. Insatisfeitos, os profissionais alegam que são obrigados a suprir uma
“lacuna” familiar, trabalhando valores como o respeito, por exemplo, porque
estes “faltam” às crianças e aos jovens. Assim, esses educadores não se sentem
implicados ou corresponsáveis com esta formação. O desenvolvimento da
moralidade, portanto, não é visto pelos professores como sendo uma tarefa da
escola.
Precisamos
refletir que, em nossa sociedade, existem duas instituições formalmente
responsáveis pela educação do ser humano: a família e a escola, que têm caráter
diferenciado, bem como funções e objetivos distintos. A educação informal, no
sentido de não sistematizada ou não intencional, começa desde que o indivíduo
nasce e, aos poucos, se relaciona com as pessoas que convive em casa e na
comunidade. É no espaço familiar que acontece a socialização primária, ou seja,
a criança aprende atitudes fundamentais que, gradualmente, a faz diferenciar o certo
do errado, de acordo com a comunidade na qual está inserida. Neste espaço
também se dá o aprendizado para a vida privada, em que as relações são
assimétricas, isto é, os pais têm mais autoridade e poder que os filhos. Assim,
os papéis se conservam, ou seja, a mãe nunca deixará de ser a mãe e pai e filho
idem, mesmo que o filho brigue ou desobedeça, o que não ocorre na escola, na
qual a manutenção das relações depende muito das ações de cada um.
Além da família, a criança interage
com outros ambientes e instituições, principalmente com a escola, que promove a
educação para outro espaço social: o público. Ao ingressar na escola, a
criança, que ocupa lugar privilegiado no seio familiar, torna-se “igual aos
demais”, dando início a uma nova aprendizagem e fazendo a passagem da vida
privada para a pública. É nessa instituição, formalmente responsável pela
educação em nossa sociedade, que a criança experimenta a igualdade e aprende a
lidar com a diversidade. Inicia-se então, a socialização secundária, que consiste
no ensino dos conhecimentos e na aprendizagem dos valores sociais. É na escola
que o aluno tem a oportunidade de aprender a viver em uma sociedade democrática
que envolve o reconhecimento do outro e a busca por coordenar perspectivas
distintas, administrar conflitos de forma justa e, por meio do diálogo,
estabelecer relações e perceber a necessidade das regras para se viver bem. O
fato de a escola e de a família possuírem papéis complementares não significa
que se houver falha na primeira socialização, a segunda não terá êxito.
Pesquisas indicam que muitos professores consideram a família como
principal causa dos problemas tanto de aprendizagem como de comportamento.
Alegam que as crianças têm baixo rendimento ou são indisciplinadas porque vêm
de lares “desestruturados” e que os pais não “transmitem mais valores”, não
“colocam limites” ou “nunca têm tempo”. Poucos educadores citam as questões
pedagógicas ou a qualidade das relações interpessoais na escola como fonte dos
problemas. Dessa forma, não há o que mudar, pois as causas são externas à
instituição escolar. Esses dados mostram que a escola se isenta de uma revisão
interna, já que o problema é quase sempre deslocado para fora de seu domínio. Não
se pode pensar na estruturação escolar separadamente da familiar, contudo, é
preciso modificar a crença na impotência da escola perante a família.
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