A PREÇO DE BANANA
A expressão remonta a um tempo em que a banana dispensava maiores
cuidados e integrava aquelas frutas já existentes no Brasil antes do
descobrimento, não sendo nem necessário plantá-la para que desse frutos.
Acusados de indolentes e incapazes para o trabalho, os índios ficaram plantando
bananeiras, em vez de cultivá-las, que é como se denomina a brincadeira que
consiste em firmar as mãos no chão e elevar o corpo, de modo a que os pés
semelhem a bananeira. Tal metáfora inspirou-se no formato do pé dessa erva de
grande porte, cujo nome latino é musa paradisíaca (musa do paraíso), mas que
entre sua parentalha conta com a banana-anã, a banana-caturra, a banana-d'água,
a banana-nanica e outras. A banana petiça, que tem esse nome por ser baixinha,
é a mais cultivada em todo o mundo, por ser tão profícua quanto as de maior
porte, porém mais resistente aos climas frios. A banana esteve presente na
condenação do primeiro herege brasileiro, Pedro de Rates Henequim, que
entretanto veio para cá importado. Ele nasceu em Lisboa em 1680. Era filho
ilegítimo de um cônsul holandês com uma moça portuguesa muito pobre. Viveu
vários anos no Brasil e voltou para Portugal em, tendo sido executado em
auto-de-fé, em sua cidade natal, em 1744. Mas o que fez Pedro de Rates Henequim
para ser queimado vivo em praça pública? Escreveu suas pouco famosas 101 teses, nas quais defendia ideias
no mínimo curiosas e algumas delas muito divertidas. Henequim levou a sério as ideias
daqueles que consideravam ser a América e especialmente o Brasil o mais
aprazível dos lugares. Segundo a propaganda dos primeiros séculos, aqui não
corria leite e mel porque os portugueses não tinham ainda trazido a vaca, mas o
mel era conhecido dos índios, que o extraíam de favos na floresta. Para Henequim,
Deus tinha criado o paraíso terrestre, o famoso Éden, no Brasil. Quando os
primeiros navegadores chegaram, ainda puderam ver os últimos rastros de Adão na
praia, quando de sua expulsão pelas hostes do arcanjo Miguel e sua espada de
fogo. Convicto dessa certeza, passou a elaborar suas teses e desdobrá-las em
complexas afirmações. O fruto proibido tinha sido a banana. Deus criara o mundo
em língua portuguesa, o idioma oficial do céu. Assim, não dissera '”fiat lux”',
que depois seria simples marca de fósforo, mas o elegante “'faça-se a luz'”.
Bem antes de Freud, intuiu que o pecado original, sempre ligado à nudez e ao
sexo, tinha outros símbolos fálicos além da serpente. Nem figos nem maçãs, como
quiseram os renascentistas. Havia uma banana na História da Salvação. Para
cometer o primeiro pecado, Eva não descascou o abacaxi, mas a banana.
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