o
professor, o aluno e o convívio escolar
É
frequente a afirmação, por partes dos professores, que os alunos de hoje são
indisciplinados, evocando um saudosismo de uma suposta educação de antigamente,
que estabelecia parâmetros rígidos para o uso do corpo e da mente.
A origem
dos comportamentos ditos indisciplinares podem estar em diversos fatores: uns
ligados a questões relacionadas ao professor, principalmente na sala de aula;
outros centrados nas famílias dos alunos; outros verificados nos alunos; outros
gerados no processo pedagógico escolar; e outros alheios ao contexto escolar.
A
indisciplina na escola pode ter relação com o fraco rendimento escolar dos
alunos. O seu insucesso pode levá- los a investir pouco nas tarefas escolares e
a desinteressarem- se pela escola, desencadeando, eventualmente, emoções
negativas, traduzidas em comportamentos inadequados.
Estes
alunos são chamados de aluno-problema, é tomado em geral, como aquele que
padece de certos supostos "distúrbios psico/pedagógicos";
distúrbios estes que podem ser de natureza cognitiva (os tais " distúrbios
de aprendizagem") ou de natureza comportamental, e nessa última categoria
enquadra-se um grande conjunto de ações que chamamos usualmente de
"indisciplinadas". Esse tipo de entendimento da questão disciplinar,
mais de cunho psicológico, merece pelo menos dois reparos: o primeiro, com
relação à idéia de ausência absoluta de limites e do desrespeito às regras; o
segundo, sobre a suposta permissividade dos pais.
É tarefa
de todos garantir uma escola de qualidade para todos, indisciplinados ou não,
com recursos ou não, com pré requisitos ou não, com supostos problemas ou não.
A inclusão passa a ser o dever de todo educador preocupado com o valor social
de sua prática e, ao mesmo tempo, ciente de seus deveres profissionais.
Quando
desponta algum entrave de ordem disciplinar na sala de aula, uma das atitudes
usuais por parte dos educadores é convocar as autoridades escolares, e estes,
os pais para que "dêem um jeito no seu filho". Imaginemos se, a cada
vez que o filho desses mesmos pais apresentasse um problema disciplinar em
casa, eles convocassem o professor para que este também "desse um jeito no
seu aluno". Muito estranho, não? Esse exemplo ficcional revela o quanto se
costuma confundir e, às vezes, justapor os âmbitos de competências, os raios de
ação das instituições escola e família. Portanto, precisamos admitir um
consenso básico, muitas vezes esquecido no cotidiano escolar: o de que aluno
não é filho, e professor não é pai. A tarefa do professor, por sua vez, não é
moralizar a criança. O objeto do trabalho escolar é fundamentalmente o
conhecimento sistematizado, e seu objetivo, a recriação deste.
Uma das
posturas do professor na sala de aula, que é necessário que ele desenvolva e conquiste
maior autonomia para lidar com a indisciplina na sala de aula. Isso não
significa deixar o professor sozinho com a indisciplina, mas fomentar um
trabalho em parceria, baseado em responsabilidades claramente definidas e no
auxílio estratégico da orientação educacional em situações que requerem
intervenção.
Normas de
convívio podem ser soluções para escolas. A idéia é tornar claro o que não pode
ser feito e ter punições definidas para cada ato irregular, tudo com o
comprometimento de todos. As normas são decididas em reuniões, ficam escritas e
assinadas em ata. Mesmo os alunos pequenos devem participar. Ela diz, que as
regras variam de caso para caso. Se o aluno não pode chegar tarde, isso também
vale para o professor. Os próprios alunos querem limites. Professor que gritar
ou humilhar aluno, também pode ser punido. Se o aluno fizer gesto obsceno,
falar palavrão, igualmente terá punição. Nos últimos trinta anos os alunos
ficaram soltos demais, e hoje eles precisam de limites. Quando deixarem o colégio,
eles terão que ter emprego, onde será cobrada disciplina. E eles não vão estar
prontos porque fizeram o que queriam. Podem até ter conhecimento, mas faltou
saber conviver, saber obedecer regras.
Embora
seja difícil e complexo lidar com o problema da indisciplina, o professor não
pode desistir e nem se acomodar. Não pode deixar que a educação silencie e
limite os alunos e que impeça seu desenvolvimento criativo e participativo em
sala de aula. Precisa- se de uma educação que valorize as organizações coletivas
e que contribua para a construção da autonomia e para o desenvolvimento
intelectual dos alunos, a fim de que se conquiste uma sociedade democrática.
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