sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2013 - Texto de Apoio



Fraternidade e Juventude
                              “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8)

                 O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o
                pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência,
                  a justiça, a educação. São estas as virtudes que devem
                                              formar o seu caráter.
                                                           Sócrates

Certamente,  o  valor  universal da fraternidade  permeia  a  conscientização  do  homem  e  seu compromisso com o bem-estar  comum na vida em sociedade.  Através  do lema consagrado na Revolução Francesa:  Liberdade,  Igualdade  e  Fraternidade,  busca-se  a ideia de que a relação dinâmica entre esses três princípios confere condições de possibilidade para dar efetividade aos Direitos  Fundamentais  na  atualidade.  A  expectativa  é  de  criar  condições  de  o  homem (re)construir  um  mundo  novo, acreditar e investir na capacidade da juventude e, para isso, entender que o homem “[...] é um ser humano imbuído do sentimento de singular humanidade” (Foucault, 1976).

O que é a juventude, afinal?

Embora os estudiosos acerca da juventude enfatizem que esse é um período bastante complexo, com  vários  contornos  de possibilidades,  a  literatura  contemporânea  busca  conceitos  e explicações mais definidas acerca dos estudos sobre a juventude e, assertivamente, entende que se trata de um período que necessita um olhar multidisciplinar. O que é a juventude, então? Poderíamos dizer que são jovens em  transformação?  Ou  adultos  precoces?  Sabe-se  que  na atualidade  o  homem  passa  por  uma  transformação  biopsicossocial,  a  juventude  hoje  se apresenta com um período de infância reduzido e com uma adolescência que se alonga até a idade adulta.

As estatísticas demonstram que as crianças das classes populares são arrancadas precocemente da condição de infância e são obrigadas a trabalhar, e muitas delas frequentam pouco a escola. Apesar dos avanços acerca dos Direitos Humanos, o Estado, a Igreja e as instituições em geral não conseguem mudar esse quadro. Na verdade, muitas crianças e jovens precisam colaborar com a renda familiar, e grande parte das famílias são monoparentais, centradas principalmente na figura materna, cujos filhos muitas vezes, não  raro, têm  diferentes pais  biológicos.  Essas crianças são obrigadas a se  transformar  em  jovens  e  adultos  muito  cedo,  convivendo  com violências de todo o modo.

Em relação às crianças e aos jovens de classe média e das elites — apesar da configuração familiar enquanto referência institucional regular com figuras parentais originárias ou com seus substitutos participando do desenvolvimento do  jovem —,  observa-se  que  a  adolescência também está começando mais cedo do que outrora, e a idade adulta se prolonga de maneira bem mais longa do que décadas atrás.
Nesse novo paradigma acerca da juventude, com as fases temporais multifacetadas, observa-se que os jovens  não  mais  dominam  o  espaço  urbano  nem  mesmo  o  bairro  que  moram, restringem-se ao espaço limitado das casas e sem muitas possibilidades de movimento. Esse aprisionamento, seja por questão espacial, seja por violência urbana, torna o jovem mais frágil, com sentimento de impotência e sensação de imobilidade psíquica.

Portanto, imóveis, privados da liberdade de expressão (imobilidade psíquica), ceifados da presença dos pais, ilhados pela violência urbana, cerceados nos instrumentos psíquicos de ir e vir, e, em muitos casos, privados de afetividade, sentem-se infantilizados pela condição de dependência, que se arrasta também pelas restrições do mercado de trabalho. A juventude se instaura num cenário paradoxal...

Quem são eles, afinal?
Adultos ou crianças?
Adolescentes protegidos ou adultos?
 São eles, o futuro da sociedade?
A perpetuação da hominização?

A juventude sofre também com os impasses econômicos e sociais contemporâneos, a escola não prepara o jovem para o mercado de trabalho, há falta de perspectiva em relação à conquista de uma profissão, a segregação de classes é significativa, e a condição de disputa é desumana. Há, portanto, a necessidade de se estabelecer, levar uma vida de adulto e se constituir como sujeito. Hoje, é comum os jovens viverem quase que maritalmente com seu namorado ou namorada na casa dos pais, pois não conseguem estabelecer uma relação de independência econômica e psíquica, com isso, a confusão geracional se institui entre filhos e pais; evidenciam-se então as linhas de fratura de fragilidade em que os jovens se encontram, aumentando assim os efeitos de infantilização e a falta de horizonte para o futuro.

A juventude é a época de se estudar a sabedoria; a velhice é a época de a praticar.
                                                                             Jean-Jacques Rousseau

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