sábado, 2 de março de 2013

Educação ética e política – formação de valores e exercício da cidadania e democracia


A criança aprende, desde muito cedo, a valorar e a perceber as implicações políticas de seu ser e agir no mundo. Ela ainda não tem estas noções tematizadas, ou abstraídas nestes conceitos, mas são capazes de percebê-las. Ela se comove diante da injustiça, do sofrimento e de toda forma de barbárie do mundo globalizado: pobreza, degradação ambiental, violência, fome, abandono, etc.
Elas ficam indignadas diante das injustiças. As crianças vivem diariamente os conflitos e contradições de um mudo que propõe o consumismo e o prazer imediato. Elas questionam estes fatos e querem saber as razões que levam o ser humano a agir desta forma. Elas se interessam em buscar saídas para estes desafios. Se a realidade é desafiadora ética e politicamente, ela é também esperançosa para uma educação voltada para a formação do sujeito moral e político de forma livre, autônoma e crítica.
Filosofia para Crianças é uma forma de investigação ética sobre os valores, permitindo a construção da identidade de forma livre e responsável. Não é, portanto, uma prática moralizante em que valores, normas e leis são incutidas para serem seguidos como verdades absolutas. O diálogo que se estabelece no processo coletivo de construção de uma Comunidade de Investigação toma os significados dos valores do universo cultural e os submete à reflexão.
A própria Comunidade de Investigação já constitui um paradigma de vivência de valores éticos: o respeito mútuo, a cooperação, a solidariedade, a justiça, a empatia e tolerância diante das diferenças, o cuidado pelo outro, a confiança entre os membros, a esperança nas capacidades humanas. O ser ético é o que leva em conta o outro no processo de valorar e de agir.
A vivência destes valores na comunidade de investigação pode alimentar a continuidade de sua experiência nos relacionamentos em uma sociedade multicultural. Este é o sentido ético-pedagógico deste paradigma filosófico-educacional.
Filosofia para Crianças incentiva e busca desenvolver as capacidades da criança de pensar sobre os valores éticos e torná-los guias para a ação humana. A vida democrática é a que oferece as melhores oportunidades para o crescimento moral e o exercício da liberdade de pensar, expressar e escolher. Quando a criança começa a filosofar – o diálogo investigativo sobre a linguagem que usamos para dar significados ao mundo – está exercitando sua cidadania. Nestas condições, a criança é um ser ético e cidadão, é um sujeito que existe ao mesmo tempo “em si” e “para si.” Ela é protagonista de sua experiência.
Não se trata de um conceito de cidadania fechado, mas aberto à investigação dos sentidos pela própria comunidade. Ser cidadão no mundo atual exige o desenvolvimento da capacidade de pensar e agir de forma crítica, criteriosa, ética, estética levando em conta a justiça e o bem comum. Daí que o exercício da cidadania passa necessariamente pela investigação rigorosa, participativa e pública dos significados e referências da comunidade, constituindo-se uma prática do filosofar ético e político. Neste sentido podemos afirmar que filosofia para crianças tem uma clara política da e para a infância.
Cidadania é muito mais do que reivindicação de direitos e cumprimento de deveres é um paradigma de conhecimento e de vida democrática alicerçado no diálogo e na investigação.
As crianças têm muito interesse e gosto de participar deste processo e é nele que descobrem suas potencialidades e as colocam para o serviço da comunidade toda. Elas adquirem um senso de valor de si mesmas e da comunidade que se traduz no aumento da auto-estima.
A auto-estima tem pelo menos duas dimensões: uma cognitiva e outra afetiva. Por um lado a autoconsciência de que é capaz de que se é capaz de pensar, julgar e autocorrigir-se; por outro lado o sentimento de confiança em si mesmo e nos outros capaz de respeitar e ser respeitado, amar e ser amado. Neste sentido, a auto-estima significa ganhar poder na autodeterminação do próprio destino e no destino do mundo. Responder às perguntas “que pessoa quero ser?” e “em que mundo quero viver?” considerando as condições individuais, sociais e culturais é um desafio diário, já que não são perguntas com respostas acabadas. É um esforço na direção da busca da vida boa e feliz. 

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