A
criança aprende, desde muito cedo, a valorar e a perceber as implicações
políticas de seu ser e agir no mundo. Ela ainda não tem estas noções
tematizadas, ou abstraídas nestes conceitos, mas são capazes de percebê-las.
Ela se comove diante da injustiça, do sofrimento e de toda forma de barbárie do
mundo globalizado: pobreza, degradação ambiental, violência, fome, abandono,
etc.
Elas
ficam indignadas diante das injustiças. As crianças vivem diariamente os
conflitos e contradições de um mudo que propõe o consumismo e o prazer
imediato. Elas questionam estes fatos e querem saber as razões que levam o ser
humano a agir desta forma. Elas se interessam em buscar saídas para estes
desafios. Se a realidade é desafiadora ética e politicamente, ela é também
esperançosa para uma educação voltada para a formação do sujeito moral e
político de forma livre, autônoma e crítica.
Filosofia
para Crianças é uma forma de investigação ética sobre os valores, permitindo a
construção da identidade de forma livre e responsável. Não é, portanto, uma
prática moralizante em que valores, normas e leis são incutidas para serem
seguidos como verdades absolutas. O diálogo que se estabelece no processo coletivo
de construção de uma Comunidade de Investigação toma os significados dos
valores do universo cultural e os submete à reflexão.
A
própria Comunidade de Investigação já constitui um paradigma de vivência de
valores éticos: o respeito mútuo, a cooperação, a solidariedade, a justiça, a
empatia e tolerância diante das diferenças, o cuidado pelo outro, a confiança
entre os membros, a esperança nas capacidades humanas. O ser ético é o que leva
em conta o outro no processo de valorar e de agir.
A
vivência destes valores na comunidade de investigação pode alimentar a
continuidade de sua experiência nos relacionamentos em uma sociedade
multicultural. Este é o sentido ético-pedagógico deste paradigma filosófico-educacional.
Filosofia
para Crianças incentiva e busca desenvolver as capacidades da criança de pensar
sobre os valores éticos e torná-los guias para a ação humana. A vida
democrática é a que oferece as melhores oportunidades para o crescimento moral
e o exercício da liberdade de pensar, expressar e escolher. Quando a criança
começa a filosofar – o diálogo investigativo sobre a linguagem que usamos para
dar significados ao mundo – está exercitando sua cidadania. Nestas condições, a
criança é um ser ético e cidadão, é um sujeito que existe ao mesmo tempo “em
si” e “para si.” Ela é protagonista de sua experiência.
Não
se trata de um conceito de cidadania fechado, mas aberto à investigação dos
sentidos pela própria comunidade. Ser cidadão no mundo atual exige o
desenvolvimento da capacidade de pensar e agir de forma crítica, criteriosa,
ética, estética levando em conta a justiça e o bem comum. Daí que o exercício
da cidadania passa necessariamente pela investigação rigorosa, participativa e
pública dos significados e referências da comunidade, constituindo-se uma
prática do filosofar ético e político. Neste sentido podemos afirmar que
filosofia para crianças tem uma clara política da e para a infância.
Cidadania é muito mais do que reivindicação de direitos e cumprimento de deveres é um paradigma de conhecimento e de vida democrática alicerçado no diálogo e na investigação.
Cidadania é muito mais do que reivindicação de direitos e cumprimento de deveres é um paradigma de conhecimento e de vida democrática alicerçado no diálogo e na investigação.
As
crianças têm muito interesse e gosto de participar deste processo e é nele que
descobrem suas potencialidades e as colocam para o serviço da comunidade toda.
Elas adquirem um senso de valor de si mesmas e da comunidade que se traduz no
aumento da auto-estima.
A
auto-estima tem pelo menos duas dimensões: uma cognitiva e outra afetiva. Por
um lado a autoconsciência de que é capaz de que se é capaz de pensar, julgar e
autocorrigir-se; por outro lado o sentimento de confiança em si mesmo e nos
outros capaz de respeitar e ser respeitado, amar e ser amado. Neste sentido, a
auto-estima significa ganhar poder na autodeterminação do próprio destino e no
destino do mundo. Responder às perguntas “que pessoa quero ser?” e “em que
mundo quero viver?” considerando as condições individuais, sociais e culturais
é um desafio diário, já que não são perguntas com respostas acabadas. É um
esforço na direção da busca da vida boa e feliz.
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