Ensinar Ciências Naturais no Ensino
Fundamental nos coloca em um lugar de privilégio, porém, de muita
responsabilidade. Temos o papel de orientar nossos alunos para o conhecimento
desse mundo novo que se abre diante deles quando começam a se fazer perguntas e
a olhar além do evidente. Será nossa tarefa aproveitar a curiosidade que todos
os alunos trazem para a escola como plataforma sobre a qual estabelecer as
bases do pensamento científico e desenvolver o prazer por continuar aprendendo.
Quando falo de estabelecer as bases do
pensamento científico estou falando de “educar” a curiosidade natural dos
alunos para hábitos do pensamento mais sistemáticos e mais autônomos. Por
exemplo, orientando-os a encontrar regularidades (ou raridades) na natureza que
os estimulem a se fazer perguntas ajudando-os a elaborar explicações possíveis
para o que observam e a imaginar maneiras de colocar em prova sua hipótese; e
ensinando-lhes a trocar ideias com outros, fomentando que sustentem o que dizem
com evidências e que as busquem por trás das afirmações que escutam.
Trata-se, em suma, de utilizar esse
desejo natural de conhecer o mundo que todos os alunos trazem para a escola
como plataforma sobre a qual possam construir ferramentas de pensamento que
lhes permitam compreender como as coisas funcionam, e pensar por eles mesmos.
E, também, de que o prazer que se obtém ao compreender melhor o mundo alimente
a chama de sua curiosidade e a mantenha viva.
O que acontece se essas pedras
fundamentais do pensamento científico não forem colocadas a tempo?
Pensemos, por um momento, em alunos que
saem do Ensino Fundamental sem a possibilidade de (nem a confiança para)
formular maneiras de procurar respostas às coisas que não conhecem, ou de
dar-se conta se há evidências que sustentam o que ouvem. Ou em alunos cuja
curiosidade foi se apagando pouco a pouco por não terem encontrado espaço para
expressá-la. Claramente estamos diante de um cenário muito arriscado,
principalmente se pensarmos em construir uma sociedade participativa, com as
ferramentas necessárias para gerar ideias próprias e decidir seu rumo.
Infelizmente, as Ciências Naturais no
Ensino Fundamental ainda são vistas como “a feia do baile”. Em diversos países
da América Latina, como a Argentina, as Ciências Naturais são muito pouco
ensinadas (muito menos do que o previsto pelos planos curriculares).
Entretanto, o problema vai além da quantidade de horas que são dedicadas à
área. O modo como as Ciências Naturais são ensinadas em nossas escolas está ainda
muito longe de contribuir para formar as bases do pensamento científico dos
alunos.
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